domingo, 22 de fevereiro de 2015

Eficientismo e ideologia: sobre o acordo entre o Eurogrupo e a Grécia:

Ao "eficientismo" do Eurogrupo, o governo grego de Alexis Tsipras contrapõe com ideologia.
À austeridade imposta pela Europa e o FMI, o governo grego opõe-se com salários mais altos, impostos mais baixos, mais subsídios, mais benefícios.
À visão economicista e financeira das instituições europeias, o governo grego autoproclama-se como o legítimo defensor das fragilidades sociais, dos pobres e dos explorados.
Parece-me que nem a linha europeia de dureza e intransigência para com a Grécia é desejável nem a miopia do governo grego é benéfica para o seu povo.
Deixemo-nos de ilusões: o governo grego pretende a implementação de uma sociedade marxista, com base no poder do estado e do seu líder e onde a iniciativa privada e as liberdades fundamentais existirão na medida em que não forem contra a linha ortodoxa do partido. Não é em vão que Varoufakis termina o acordo com o Eurogrupo dizendo que conseguiu que houvesse um acordo em que o compromisso de respeitar as responsabilidades para com terceiros não se irá opor à ideologia.
A luta do governo grego é ideológica, não é porque têm mais respeito pelo povo grego ou porque se preocupam mais com os problemas sociais e pelas pessoas do que os governos gregos anteriores.
É também por isto que o Eurogrupo é mais prudente nas consessões que faz, pondo em risco aquilo que são as suas obrigações morais de solidariedade para com os gregos (que também são cidadãos europeus).
Digamos que se está numa encruzilhada que em nada parece ser boa para a sociedade grega.
Aquilo de que é preciso, é ambas as partes deixarem-se de preconceitos mútuos e abertamente discutirem medida a medida do novo acordo tendo sempre presente os interesses comuns dos cidadãos expressos já nos princípios fundadores da União Europeia (liberdade, solidariedade, igualdade de oportunidades em todo o espaço europeu, respeito pelas culturas dos povos) e que serão sempre o seu sustentáculo.
A Europa precisa de líderes que saibam ler a realidade, que saibam ver os novos desafios e lhe saibam dar uma resposta que tenha em conta as mais profundas exigências dos cidadãos europeus.
Em boa parte, esta divergência de visões com que o Eurogrupo se depara agora (verdade seja dita, trazida a lume por um governo grego radical), pode até ser benéfica se a virmos como uma oportunidade para conhecermos melhor as diversas leituras que se fazem da realidade, da sociedade europeia e da economia.