quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Análise Legislativas 09

Fazer uma análise a eleições legislativas nem sempre é um processo fácil, muito menos, em eleições como os do passado dia 27.
Para que se possa fazer uma analise objectiva e concreta é preciso distinguir dois tipos de sufrágio dentro deste acto eleitoral, o sufrágio dos partidos para a constituição de um governo, onde PS e PSD se batiam, e o sufrágio dos pequenos partidos cujo objectivo é conseguir eleger o maior numero de deputados possível, para terem uma voz mais activa no parlamento. O problema da própria dicotomia destas eleições é que estes dois sufrágios se interligam entre si, e um processo interfere necessariamente no resultado dos outros. Os votos não são elásticos e para que uns os ganhem , outros terão de os perder. Apesar de poder parecer óbvia esta leitura, é aqui que reside, na minha opinião, a essência destas eleições. Partindo o PS para estas eleições com maioria absoluta, era este o partido a quem todos queriam roubar votos.

Para além disto, o PS vinha de um governo de 4 anos muito desgastado. Há que reconhecer, em abono da verdade, que a sorte foi madrasta para o partido de José Sócrates. A estratégia do governo foi a de, tendo maioria absoluta na Assembleia da República, aproveitar esse handicap, para ser reformista em áreas muito sensíveis como a saúde e a educação, mas não esquecendo que no final da legislatura teria de haver um "desapertar do cinto", de forma a mostrar que todo o esforço que foi feito pelos portugueses tinha compensado, e que isso se sentiria no seu dia-a-dia.
O problema é que quando o governo se preparava para o fazer rebentou uma crise internacional que entrou pelas empresas e tecido empresarial português, já por si fragilizado devido a décadas de mau planeamento, fazendo aumentar as fileiras do desemprego e da exclusão social.

Por estas razões e outras mais, o PSD de Manuela Ferreira Leite (MFL) teria todas as condições para poder entrar nesta campanha com uma vantagem significativa.
O problema é que o PSD está, na minha opinião, a atravessar um grande deserto, está esvaziado ideologicamente, e esta condição não acaba mudando de líder. O PSD precisa de se reencontrar consigo próprio e com aquilo que deve ser uma ideologia politica subjacente. Não se vislumbra dentro do PSD uma linha politica coerente, é um partido à deriva ideologicamente. Ao contrario do PS que, em resposta à crise, apostou em dois eixos, competitividade e solidariedade social (ainda que esteja longe de atingir o primeiro), o PSD apresentou propostas avulsas sem uma estratégia de alternativa consolidada.
É talvez por esta serie de condicionalismos, que MFL é a grande derrotada da noite. Ela e a sua direcção politica. Ela e todos os que estiveram ao seu lado. Fizeram uma campanha completamente errada, acertaram sempre ao lado, muitas vezes com o alvo a meio metro de distância, senão vejamos: apostaram na questão da asfixia democrática, quando o PSD tem telhados de vidro, que vêm desde os tempos da segunda maioria de Cavaco Silva, apostaram na politica de verdade e tropeçaram pelo caminho, apostaram em atacar as grandes obras publicas como o TGV e não conseguiram passar a mensagem.

Quem consegui capitalizar esta derrota de MFL e do PSD foi Paulo Portas, que fez uma campanha assertiva, que concordando-se ou não, apresentou propostas, apresentou uma linha de orientação concreta e coerente com os ideais de direita, principalmente em questões como a segurança e justiça. Não é para mim novidade nenhuma que o líder do CDS tem faro e instinto político, e não constitui surpresa a vitoria do partido no seu campeonato, ou seja, o campeonato dos "pequenos". É verdade que é uma vitoria alicerçada na derrota do PSD, e que dificilmente o CDS consegue ter um bom resultado em eleições legislativas com um PSD forte.

Por fim, referir que o Bloco é também para mim, outro dos derrotados destas eleições. A estratégia, por mais que Louçâ diga o contrario, não era só retirar a maioria absoluta ao PS, era tornar-se um partido da esfera de poder, ou seja, um partido que pudesse ter um papel decisivo na matemática parlamentar. Não consegui atingir esse objectivo, e mesmo crescendo bastante, fica aquém daquilo que eram as expectativas dos seus dirigentes e votantes.
A CDU começa a quebrar, e penso estar a iniciar uma descida que a irá levar a um patamar mais baixo de eleitorado base, e consequentemente perda de influencia a nível parlamentar.
Mesmo não gostando de simplificar as coisas a este ponto, penso ser óbvio que os grandes vencedores foram em primeiro lugar o PS, porque apesar de todas as contrariedades consegue ganhar as eleições e o CDS porque obtêm um resultado que dificilmente poderá repetir no futuro.
Por contraponto, PSD, BE e CDU, não atingem os seus objectivos eleitorais, sendo que no caso do PSD a derrota assume um peso muito diferente dos outros dois, porque tem uma votação ao nível da de Santana Lopes, com a agravante de ter tido nestas eleições condições muito mais favoraveis.

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